Pois bem, junte as duas coisas e você tem uma novidade criminosa que está se tornando comum nos EUA: flash rob. Dezenas de assaltantes, normalmente adolescentes, combinam por celular entrar em alguma loja de uma vez e, com a enorme quantidade, conseguem furtar itens sem serem notados, ou mesmo que sejam notados, sem que se consiga para-los.
Do ponto de vista jurídico, temos dois grandes problemas que tornarão a prática ainda mais difícil de ser punida no Brasil: primeiro, ao contrário dos EUA, no Brasil os adolescentes não cometem crimes. Se cometerem atos infracionais, quando muito, são submetidos a medidas socioeducativas. Logo, não se pode contar com uma condenação criminal para tira-los de circulação (prevenir novos crimes), dissuadi-los de cometerem novos crimes (rebalançar a equação custo x benefício) e mostrar aos demais que tal conduta não será tolerada (usar a punição como exemplo).
O segundo problema é tão complicado quanto: o acusado só pode ser apenado na medida de sua culpa. Em bom português, ainda que se saiba que a pessoa pertencia ao grupo criminoso que praticou o crime, aquela pessoa não pode ser condenada a cumprir uma pena se não se descobre exatamente qual foi sua participação no crime. Ele estava apenas vigiando? Ou foi ele quem coordenou? Sem conseguir definir a participação específica de cada indivíduo, dificilmente eles serão condenados pelo crime contra a propriedade. A condenação poderá acabar limitada ao crime de formação de quadrilha.
Boas leis são flexíveis o suficiente para se adaptarem a eventos futuros que não eram previstos quando foram elaboradas. E boas leis são aquelas feitas antes de uma modalidade criminosa se tornar comum, ou seja, o legislador age proativamente. No momento, nossas leis não estão preparadas para lidarem com essa nova modalidade delituosa.
Mas mesmo que resolvamos esses dois problemas, há um outro, que é a logística de se prevenir que tais crimes aconteçam. Como dito, o custo de organização e implementação praticamente inexiste para os criminosos. Tudo o que precisam é de celulares e o custo de enviar uma mensagem. Não há sequer os riscos de gerenciamento associados com organizações criminosas, como o risco de alguém não aceitar sua parte na divisão dos lucros: cada um fica com o que furtou/roubou. Alguns nunca se viram antes e jamais voltarão a se ver depois.
Por outro lado, os custos de prevenção são altos: é praticamente impossível espalhar policiais suficientes para protegerem todos os potenciais alvos, e um par de policiais não conseguirá evitar que dezenas de criminosos invadam uma loja. A melhor forma de prevenção para esse tipo de crime é o trabalho de inteligência: infiltração. Mas uma peculiaridade desse tipo de organização criminosa é que ela é amorfa. Raramente tem um único líder, qualquer pessoa pode assumir a liderança e uma mesma pessoa pode estar em várias redes criminosas ao mesmo tempo. A melhor analogia talvez seja com ações de hackers. E como sabemos, evitar um ataque de hackers é difícil porque exige um enorme trabalho de inteligência.
PS: Esse site mantém uma lista de casos reportados nos EUA. Ele está organizado cronologicamente. Interessante notar como o crime se tornou mais comum nos últimos meses: www.violentflashmobs.com